domingo, 10 de julho de 2011

"O BALANÇO PODE SER CONSIDERADO NEGATIVO"

Desta feita o Cartão Azul deslocou-se até Odivelas ao encontro e Paulo Nunes, guarda-redes da equipa do GC Odivelas, clube que esta época militou na 3ª Divisão Centro e que foi um dos clubes que venceu o campeão de série ACR Santa Cita, empatou com o 3º classificado União FE, mas que acabou depois por fazer resultados com equipas mais acessíveis o que resultou numa classificação modesta no final. Foi esta a entrevista com o "keeper" do GC Odivelas.
CA - Em primeiro lugar, quero agradecer a tua disponibilidade. Que balanço fazes da época que agora acabou, a nível de equipa e a nível pessoal?
PN - Em primeiro lugar quero aproveitar esta oportunidade para mais uma vez felicitar o Cartão Azul e o seu autor Francisco Gavancho pelo excelente trabalho que faz em prol do hóquei, sendo um blog assumidamente do “hóquei ribatejano” nunca recusa uma divulgação de notícias de outras regiões. O balanço desta época pode-se considerar negativo, se bem que nunca foi definido um objectivo e que sabíamos que ao ser integrados na zona centro (assumidamente uma das mais competitivas da 3ª divisão) iríamos ter muitas dificuldades. O que aconteceu foi que a realidade foi outra e chegados ao fim da época e olhando para trás ficamos com um amargo na boca, pois tínhamos capacidade para fazer mais. Por diversos motivos falhamos em alturas cruciais e isso foi determinante para a classificação final. A nível pessoal, também não posso considerar que tenha tido um balanço positivo visto que a minha equipa ficou abaixo das suas capacidades, por isso não posso considerar que tenha tido um época positiva.


CA - Quais os aspectos mais marcantes, tanto pela positiva como pela negativa?
PN - Pela negativa e a nível pessoal, tenho que destacar a minha ida para o Hospital no jogo do Entroncamento, nunca me tinha acontecido nada do género e espero que não volte a acontecer. Pela positiva, destaco o fortalecer da amizade entre os jogadores e a nossa participação no Torneio Mundial de Tourcoing. Foi com orgulho que representamos o hóquei nacional em França e sentimos um pouco o carinho dos imigrantes. Destaco um senhor que soube por umas crianças que havia uma equipa Portuguesa a jogar no Torneio de Tourcoig e desde então foi assistir a todos os nossos jogos (esse senhor morava na Bélgica e deslocava-se a França para ver a nossa equipa) a deslocação não era muito grande, mas só o facto de o fazer não nos foi indiferente e a mim pessoalmente marcou-me pela positiva.
CA - O futuro passa pelo actual clube, ou vamos vê-lo na próxima época a representar outro emblema?
PN - O meu futuro neste momento é incerto, pelo actual clube não passa, pois infelizmente o hóquei sénior em Odivelas vai acabar. Ainda me sinto com capacidade para jogar pelo menos mais uma época e sei que ainda posso ser útil numa equipa. Estou a estudar hipóteses e receptivo a convites de outros clubes, pois o meu objectivo é continuar a praticar a modalidade que tanto gosto, a hipótese de arrumar as botas ainda não a descartei, também esta em cima da mesa, se for essa a minha decisão, sei que vou de consciência tranquila, dei tudo o que tinha em prol desta modalidade que tanto gosto, fiz grandes amizades, felizmente poucos inimigos e é com orgulho que digo que jogo/joguei hóquei em patins.


CA - Nestes últimos dias, tem sido noticiado o abandono da modalidade por parte de várias equipas, SCL Marrazes, AA Amadora entre outras, será isto sinal que a modalidade, continua a atravessar um período difícil, ou será reflexo da situação económica actual?
PN - Sinceramente penso que a modalidade continua a fazer uma travessia no deserto, não se adapta a realidade, continua a viver de memórias, a situação económica actual ajuda um pouco, mas não pode servir de desculpa para tudo. Sei o custo de uma época de seniores na 3ª divisão, sei que não é fácil arranjar apoios, mas também sei que é mais fácil virar as costas e fechar as portas do que trabalhar em prol de um objectivo. Como já disse, a juntar a essas equipas todas que menciona, também os seniores do Ginásio Clube de Odivelas vão acabar, a direcção mais uma vez não aprovou o projecto que foi apresentado, projecto esse que tinha como objectivo tornar a secção de hóquei em patins sustentável. Por isso pensar que nem só as dificuldades económicas justificam o término dos clubes. O hóquei continua a ser uma das modalidades mais caras de se praticar e a juntar a isso as elevadas taxas que se cobra para participar num campeonato nacional ajuda a que seja a primeira escolha de um clube quando têm que reduzir custos. Fico triste por ver cada época que passa que mais um clube fecha as portas, mas enquanto as coisas não mudarem essa será a realidade do hóquei em Portugal.
CA - Em contrapartida sites como o Hóquei em patins.com, Mundo do Hóquei, e blogs com o Cartão Azul e Best Hóquei, por exemplo tem cada vez mais visitantes e são referência na modalidade, será que este facto vem contrapor a pergunta anterior e provar que a modalidade está viva e recomenda-se?
PN - É um pouco contraditório, mas penso que tem fácil explicação, o hóquei continua a ser uma modalidade “secretamente amada” pelos portugueses e a visibilidade que esses sites/blogs têm trazido a modalidade têm ajudado para que esta não desapareça de vez. Mas só isso não chega, o hóquei necessita de voltar a cativar os jovens, é muito mais fácil (e barato) jogar futebol, andebol, volei e futsal do que hóquei. Os clubes não têm dinheiro para financiar material para os jogadores (pois praticamente todo o orçamento é para os custos da época com jogos e deslocações). É necessário um trabalho de fundo, principalmente na formação, por exemplo em Odivelas, com o trabalho que estava a ser implementado (por dois membros da equipa de seniores) na formação, os jovens estavam a voltar ao hóquei, todos os domingos haviam novos atletas, estava previsto a criação de duas equipas para entrar em competição já na época que se avizinha e os pais dos atletas estavam super motivados para isso. E acho que passa por ai o renascimento do hóquei. Apostar na formação, dar tempo de competição aos mais novos, dar-lhes o gosto da modalidade, fazer com que eles queiram jogar hóquei só assim a nossa modalidade poderá voltar a ribalta.
CA - Para terminar, resta-me agradecer a disponibilidade, e fica o espaço à disposição para alguma mensagem que queiras transmitir aos visitantes do Cartão Azul
PN - Em primeiro lugar queria agradecer esta oportunidade que o Cartão Azul me deu e mais uma vez gostaria de felicitar o blog Cartão Azul por todo o trabalho que têm feito em prol do hóquei em patins e desejo que continue por muito mais tempo, para que assim a nossa modalidade possa ainda se manter com a cabeça a tona de água. Queria também agradecer publicamente a todos os meus colegas de equipa que nestas últimas época lutaram comigo em prol do mesmo objectivo que infelizmente termina assim, mas a amizade irá permanecer e isso é o que importa.

Fotos de arquivo: Barros Simões

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