sábado, 25 de julho de 2015

"NÃO FICAREI POR AQUI..."

Jaime Vieira, antigo árbitro de futebol e de futsal, modalidades que há cerca de 16 anos trocou pelo hóquei em patins, é o “árbitro do ano” do Conselho de Arbitragem da Federação de Patinagem de Portugal.


O bejense Jaime Pedro Serra Vieira, 49 anos, árbitro internacional de hóquei em patins desde 2008, acaba de ser eleito “árbitro do ano”. Desiludido com a falta de oportunidades no futebol, abraçou o hóquei em patins em 1999. Cinco anos depois ascendeu à primeira categoria nacional e em 2008 foi promovido a internacional. Um percurso bem-sucedido com seis presenças em jogos do Campeonato da Europa, 14 jogos da Taça CERH e mais seis prestigiantes participações internacionais, entre as quais o Europeu e o Mundial Feminino, o Europeu Sub/17, a “Womens Cup” e o Troféu José Eduardo dos Santos. Nesta época acaba de ver reconhecido o seu mérito: “Todos os anos lutava por isso, mas sem chegar ao lugar que todos almejam, por isso foi com alguma supressa que este ano, embora soubesse que as coisas me tinham corrido bem, mas correm sempre melhor aos outros. Mas este ano correu--me tudo melhor a mim”, confessou Jaime Vieira ao “Diário do Alentejo”.
O hóquei em patins já lhe deu o reconhecimento que não teve no futebol, modalidade onde foi árbitro muitos anos?
Sim, embora no futebol nunca tivesse andado em provas nacionais, apenas apitei futsal a nível nacional. Infelizmente, no futebol de 11, não consegui, porque estava à frente do conselho de arbitragem uma pessoa que não apostava em mim, pensava que eu não faria as provas e, por causa dele, abandonei o futebol. No hóquei em patins as coisas correram de outra forma.
Que virtude tem o hóquei em patins que não reconhece no futebol?
O hóquei não está muito distante do futebol, quando tentamos chegar ao topo de qualquer coisa. Há muitos interesses, embora no hóquei, porque movimenta muito menos dinheiro, as coisas não se notem tanto, mas existem. Os “amigos” existem no hóquei, como existem no futebol. E nós temos de saber distinguir quem são os nossos verdadeiros amigos. 
O hóquei é uma modalidade mais concentrada no norte e centro do País, mas o Jaime Vieira provou que a sul também existe mérito?
No sul só temos equipas de 1.ª divisão em Lisboa, daí para baixo só 2.ª divisão e não são muitas, é o Sesimbra e o Grândola. O hóquei está mais enraizado no norte, o que não quer dizer que os árbitros do sul não consigam lá chegar, só que, por exemplo, eu faço 50 jogos por época e os juízes do norte fazem 100. A diferença é essa.
Essa variante aplica-se também aos jogos internacionais?
Claro, infelizmente para mim, as coisas mudaram um pouco. Antigamente quem pagava aos árbitros eram os clubes, agora quem paga é o Comité Europeu de Hóquei em Patins (CERH) e, na verdade, um árbitro do Alentejo fica mais caro à organização do que um de Lisboa, por isso, eles fazem quatro jogos enquanto eu faço dois, mas já estou mentalizado que as coisas são assim e não se vão alterar.

Foto: Cris Arisa

O que mais espera da arbitragem até ao final da carreira?
O meu grande sonho é estar num campeonato do mundo de seniores masculinos. Já estive num feminino, mas o sonho mantém-se, apitar uma final do campeonato do mundo, o topo da carreira de um árbitro, é algo que eu persigo. Não desisto, faltam-me mais cinco ou seis anos, ainda restam dois campeonatos. 
Isso é algo que esteja ao alcance de um árbitro filiado numa associação do interior do País?
O problema é exactamente esse. Em termos de igualdade sabemos que as hipóteses são poucas mas, no meu caso, com o primeiro lugar deste ano e se, para o ano, ficar em primeiro ou segundo, talvez as pessoas se vejam na obrigação de me nomear, porque, nos últimos seis ou sete mundiais, estiveram árbitros de Lisboa, Porto e Minho. Nas classificações deste ano, sendo eu o primeiro, só aparece um árbitro fora destes três conselhos regionais no 30.º lugar, isso é relevante. 
A distinção deste ano não limita a ambição, nem diminui a dimensão do sonho?
Sem dúvida. Na próxima época entrarei com maior responsabilidade, mas não ficarei por aqui em termos de objectivos, há dois anos que fico em primeiro lugar nas provas técnicas, já me estou a preparar também para as provas físicas, não desistirei de trabalhar para atingir a tal final de um mundial.
Tem um filho que é árbitro de futebol (Bruno Vieira). Já o desafiou a trocar a carreira pelo hóquei em patins?
Ele tirou o curso, mas o hóquei não tem nada a ver com o futebol, repare, se eu for a Lisboa apitar um Benfica-Sporting, o meu prémio de jogo é de 70 euros. O meu filho está no Campeonato Nacional de Seniores e em cada jogo que apita tem um prémio de 330 euros. Isto explica tudo. 

Texto e foto Firmino Paixão in Diário do Alentejo

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